O vinho, apesar de ser uma bebida fácil de apreciar, possui uma essência complexa. Boa parte dessa complexidade está relacionada à sua maturação e ao período de “descanso” após a fermentação. Quando pensamos em armazenagem de vinho, imediatamente associamos às tradicionais barricas de carvalho. Essa prática vem de longa data, pois, desde a Antiguidade, o vinho era maturado e arredondado em barris de madeira.
Os viticultores da Antiguidade perceberam que o vinho apresentava melhorias em transportes longos ou em períodos mais extensos de armazenagem. Com isso, as barricas de madeira passaram a ser incorporadas como parte importante do processo de produção. O uso dos barris para armazenamento e transporte de vinhos remonta aos povos da Mesopotâmia, muitos séculos antes de Cristo, conforme relatos do historiador e geógrafo grego Heródoto (484-425 a.C). Mais tarde, os romanos adotaram o uso dos barris de madeira, influenciados pelos celtas.
Já no século II d.C., os barris eram amplamente utilizados para armazenar vinho, azeite e água, principalmente devido à ausência de recipientes alternativos. Os de barro ou argila, por exemplo, absorviam parte do líquido em períodos prolongados de armazenamento. Atualmente, o barril de carvalho mais popular na produção de vinhos é o “Barrique Bordeaux”, com capacidade de 225 litros. Ele não só serve para armazenar a bebida, mas também agrega características importantes, como o toque amadeirado e o arredondamento dos taninos, elementos valorizados em vinhos mais complexos.
No entanto, com os avanços modernos, os tanques de aço inoxidável ganharam espaço na produção e armazenagem de vinhos. Inicialmente utilizados na Austrália na década de 1970, inspirados pelos tanques da indústria leiteira, eles oferecem vantagens significativas. Segundo matéria da Gazeta do Povo de 6 de agosto de 2020, o principal benefício do inox é sua inércia, ou seja, ele não transfere sabores ou aromas para o vinho, atuando apenas como recipiente. Além disso, os tanques de inox permitem um controle preciso de temperatura, possibilitando que o vinho seja armazenado por meses sem perda de qualidade. A manutenção também é mais fácil e econômica.
Os tanques de inox impedem a interação do vinho com o oxigênio, permitindo ao enólogo um controle maior sobre o resultado final do produto. Essa característica é ideal para a produção de vinhos jovens e frescos, onde a proposta é preservar a pureza dos sabores e aromas. Espumantes também são amplamente produzidos em tanques de inox, o que reduz significativamente os custos de produção e torna o consumo mais acessível a um público maior.
Portanto, a escolha entre barris de madeira e tanques de inox depende dos objetivos do produtor e do estilo de vinho desejado. Enquanto os barris de carvalho conferem complexidade e características únicas ao vinho, os tanques de inox são mais econômicos e oferecem maior controle técnico. Cabe ao enólogo decidir como equilibrar sabores, aromas e custos para atender à proposta de cada vinho.
Fonte: Grupo Jovem Pan