A história da bilionária distribuidora de aço Açotubo, de Guarulhos, começou com uma praga e uma geada, há mais de 50 anos.
Os fundadores da empresa, Wilson, Luiz e Ribamar Bassi, três irmãos descendentes de italianos, se mudaram para São Paulo depois que uma infestação e uma tempestade de gelo destruíram a lavoura de café que tinham no interior do Paraná.
Na capital paulista, trabalharam no varejo local, em feira livre, com produtos de laticínios e abrindo uma pequena banca de jornal, até entrarem no mercado siderúrgico. Na época, decidiram investir o dinheiro da venda das terras do Paraná numa empresa de aços que precisava de aportes.
Com os dividendos, criaram a própria distribuidora de aço. O ano era 1974. Foi a origem da Açotubo, que deve fechar este ano faturando cerca de 2 bilhões de reais e que se prepara para comemorar os 50 anos em 2024 apostando na internacionalização e em novos investimentos.
“Os três irmãos sempre acreditaram muito no negócio, reinvestindo tudo que ganhavam”, diz Bruno Bassi, atual CEO da empresa e membro da segunda geração da família no negócio. “Como pessoas físicas, tinham poucos luxos. O que ganhavam, colocavam na empresa. Foi assim que conseguimos crescer e ganhar mercado”.
Como foram os primeiros anos da Açotubo
À época, o Brasil vinha de alguns bons anos de fortalecimento da indústria nacional, o que movimentou também as siderúrgicas. Nos anos 1970, por exemplo, marcas como a Fiat e Agrale ganharam relevância no país, e o país entregava mais de 5,5 milhões de toneladas de aço nacional – o triplo em relação a 10 anos antes.
- Paraná
- Rio Grande do Sul
- Minas Gerais
Hoje, a empresa também tem operações em:
- Rio de Janeiro
- Sertãozinho
- Caxias do Sul
- Joinville (aberta recentemente, com um investimento de 1,5 milhão de reais.
No início dos anos 2000, a Açotubo virou guarulhense. Foi para uma matriz que conseguiu colocar toda gestão da parte de distribuição (que é responsável por 70% do faturamento da empresa) e de indústria (que representa os outros 30% das receitas).
Qual a estrutura da Açotubo hoje
Hoje a Açotubo se classifica como uma distribuidora para outras indústrias. A empresa tem clientes em áreas como óleo e gás, máquinas e equipamentos agrícolas e elevadores.
A ideia da empresa é estar o mais próximo possível de clientes. Por isso, seus centros de distribuição estão em pólos industriais importantes, como a própria Guarulhos e Caxias do Sul, na serra gaúcha, por exemplo.
São 950 funcionários. Boa parte fica em Guarulhos, onde ficam as indústrias. Na equipe comercial, são cerca de 150 funcionários, que atendem 30.000 cotações por mês para cerca de 40 produtos.
Em 2022, faturaram R$ 2,3 bilhões de reais. Neste ano, as receitas devem cair 14%, puxadas pela queda no preço do aço, mesmo, indo para cerca de R$ 2 bilhões. Em termos de volume de venda, o valor deve ficar estável, com uma oscilação de 3% para baixo.
“No país, o setor deverá ter uma queda de 8% no ano em volume de venda”, diz Bassi. “Nós vamos cair menos que o mercado e vamos seguir investindo ano que vem, cerca de 30 a 40 milhões de reais, para podermos expandir”.
Na visão de Bassi, um dos motivos que fez com que a empresa não tivesse uma queda como a do setor está na relação que mantém com o cliente.
“A gente sempre teve preferência em garantir o suprimento, ter estoque, isso ajudou muito o cliente quando ele precisava de um produto urgentemente”, afirma Bassi. “Isso deu, ao longo prazo, uma parceria com o cliente. Quando o preço sobe um pouco, ele não sai imediatamente procurando outros fornecedores. Eles ficam conosco, porque sabem que podem contar com a gente quando precisarem de algum produto”.
Quais os desafios no caminho
Um deles é o aço chinês, que tem sido a grande pedra no sapato de gigantes como a Gerdau. O CEO da gigante nacional, Gustavo Werneck, tem aproveitado eventos e entrevistas para falar sobre o que chama de “competição desleal” com a China.
“A China não vai parar de exportar, não vai diminuir capacidade de produção para equilibrar oferta e demanda. Então é imperativo que todos os países coloquem algum tipo de defesa comercial para criar condições de competição isonômica”, disse Werneck em um evento em setembro.
Com o menor crescimento no mercado interno, a China tem colocado o pé no acelerador nas exportações, com subsídios que tornam o preço do produto final por vezes menores que o custo dos produtores locais.
Werneck pleita o estabelecimento de uma alíquota de 25% para a importação de produtos siderúrgicos – um pedido que não agrada consumidores intensivos em aço, como a indústria automotiva e de máquinas. Até agora, o governo só concordou em retirar incentivos à importação, com antecipação do fim da redução de 10% na alíquota de imposto de importação sobre 12 produtos de aço que só acabaria em 31 de dezembro.
Na Açotubo, como varejo, o impacto não é tão grande, mas Bassi reconhece que os custos de produção nacionais, como alíquotas altas e falta de barreiras estrangeiras, dificultam a competição com o preço asiático. “Apesar disso, performamos bem, conseguimos segurar a queda de demanda e acreditamos muito no Brasil, na força da indústria daqui e da capacidade da demanda crescer no ano que vem”.
Como está o plano de crescimento
Há dois anos, a empresa entrou como sócia minoritária numa joint-venture com a francesa Vallourec para a produção de tubos de aço e soluções tubulares para a indústria.
Também virou sócia da Incotep, empresa do grupo que atua com sistemas de protensão e ancoragem para projetos estruturais e geotécnicos e estruturou uma nova diretoria dedicada somente a internacionalização do grupo.
“Estamos estudando para fazer a aquisição 100% do negócio”, diz Bassi.
“Empreender no Brasil não é nada simples. Vivemos muitos movimentos econômicos nessa nossa jornada, começamos com 250 metros quadrados”, afirma. “Vivemos vários momentos econômicos, faltava aço, tinha pouca importação, tinha hiperinflação. Foram momentos desafiadores, mas de muito crescimento. Sempre acreditaram muito no negócio. Reinvestir tudo. Pessoas físicas tinham poucos luxos, e tudo reinvestido na empresa”.
Fonte: Exame