Indústrias que fabricam produtos para consumo humano, como alimentos, bebidas e medicamentos, frequentemente utilizam recipientes de aço inoxidável em seus processos. Esse material é amplamente reconhecido por sua resistência, facilidade de limpeza e manutenção, além de sua durabilidade superior contra a corrosão, o que minimiza a liberação de elementos químicos durante o processamento.
Essa resistência à corrosão é uma característica inerente ao aço inox, graças ao cromo presente em sua composição. Quando exposto ao ar, o cromo forma um filme passivo natural que protege a superfície do aço. Esse processo, conhecido como passivação natural, cria uma camada de óxidos e hidróxidos que previne a corrosão.
Apesar dessa vantagem, com o tempo, a exposição a proteínas presentes nos produtos processados leva à oxidação da superfície de aço inox. O filme passivo, originalmente rico em cromo, passa a apresentar maior concentração de ferro, resultando em corrosão e, eventualmente, liberação de ferrugem. Esse problema afeta indústrias ao redor do mundo, incluindo as do setor alimentício e farmacêutico.
Inovação em inspeção de superfícies
Ciente desse desafio, o engenheiro de materiais Luis Henrique Guilherme, pesquisador e gerente de engenharia da ACW, desenvolveu o Passivity Scan, um aparelho portátil de inspeção que avalia a passividade de superfícies de aço inox com o uso de microcélulas eletroquímicas. Esse dispositivo identifica alterações no filme passivo antes que a corrosão se instale, permitindo que as indústrias intervenham preventivamente.
“Em muitas empresas, a contaminação só é detectada durante a análise microbiológica ao final do processo”, explica Guilherme. “Quando isso ocorre, o lote de produção pode ser perdido, resultando em prejuízos financeiros consideráveis.”
O Passivity Scan, apoiado pelo programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, é capaz de monitorar diretamente na planta industrial, oferecendo uma alternativa viável ao antigo método que exigia análise em laboratório. Com ele, é possível quantificar o grau de passivação do aço inox e realizar tratamentos preventivos, evitando a adesão de biofilmes e corrosão localizada.
Passivação galvanostática: inovação no tratamento de superfícies
Além da inspeção, a ACW desenvolveu uma solução inovadora para o tratamento das superfícies de aço inox: a passivação galvanostática. Diferente dos métodos tradicionais, que utilizam ácido nítrico em altas concentrações (15% a 20%) e são perigosos para operadores e agressivos ao meio ambiente, a passivação galvanostática combina uma solução ácida mais fraca, como ácido cítrico a 7%, com uma corrente elétrica controlada.
Esse método aumenta significativamente a relação entre cromo e ferro na superfície, atingindo índices de até 2,5, muito superiores ao mínimo necessário de 1,3, proporcionando uma proteção mais duradoura contra a corrosão. Além disso, o processo é mais seguro, tem menor custo operacional e facilita o tratamento dos efluentes.
Economia e aumento da vida útil
O monitoramento e o tratamento periódico das superfícies de aço inox garantem maior durabilidade dos equipamentos industriais. Enquanto a substituição de um equipamento pode ser necessária em 6 a 8 anos sem manutenção adequada, com o acompanhamento preventivo, essa vida útil pode ser estendida para até 30 anos.
“Ao monitorar a qualidade química do filme passivo, as empresas podem agir no momento certo, evitando intervenções desnecessárias ou tardias. Isso reduz custos e previne falhas operacionais”, destaca Guilherme. O custo de tratamento preventivo é significativamente menor do que o custo de recuperação de equipamentos danificados ou a perda de lotes de produção.
Expansão internacional
A inovação da ACW não tem concorrentes diretos no mercado global. Desde 2023, a startup expandiu suas operações para o Canadá, em parceria com a Universidade McMaster, e colabora com instituições na Alemanha e no Reino Unido, como a Universidade de Manchester. Essas parcerias internacionais destacam a exclusividade da tecnologia de passivação galvanostática, aplicada com sucesso em ambientes industriais.
“Essa abordagem proporciona aumento de qualidade sem elevação de custos, melhorando a competitividade das indústrias que adotam a solução”, afirma Guilherme.
A ACW também participará da FAPESP Week Espanha, em Madri, entre os dias 27 e 29 de novembro, onde apresentará suas inovações para o mercado europeu.
Fonte: Faspesp