Pluvi é um pequeno robô de 20 kg, feito de aço inox, fabricado em Goiânia com um motor importado da França. Semelhante a um veículo de exploração espacial, tem quatro rodas como patas e câmeras como olhos, que funcionam para “caçar” pontos bloqueados na rede de escoamento da água da chuva de Fortaleza.
Desde março até o início de dezembro, mais de 182 toneladas de lixo foram removidas das tubulações das chamadas galerias pluviais com a ajuda do aparelho. O que começou com 600 kg retirados nos meses de março e abril, cada, chegou ao recorde de 42 toneladas, em setembro.
A cada viagem, o equipamento pode percorrer até 100 metros. As imagens do trajeto são transmitidas e checadas ao vivo por uma equipe de operadores na rua, por meio de um pequeno monitor. Eles têm apoio de uma câmera superzoom capaz de enxergar 80 metros à frente, para prever se Pluvi terá obstáculos no caminho.
Contudo, segundo o encarregado, a maioria do material encontrado é plástico, normalmente arrastado pelo vento até as galerias. Junto com a areia, é o principal responsável pelo bloqueio das tubulações, principalmente nas curvas. “Já tiramos uma caminhonete de lixo de um ponto só”, lembra.
Essa tecnologia também é utilizada em cidades como Vitória (ES), Agudos (SP), Porto Alegre (RS) e Maceió (AL). Em Fortaleza, o projeto de Vídeo Inspeção de Galerias Pluviais é coordenado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), com financiamento do Banco Mundial.
Atividade do aparelho é controlada por profissionais técnicos
Foto: Nícolas Paulino
O principal objetivo é detectar obstruções para evitar que o lixo acumulado vá para a orla e prejudique a balneabilidade das praias. Por isso, as atividades estão focadas na Bacia da Vertente Marítima, faixa localizada ao longo do litoral, entre os Rios Cocó e Ceará.
A secretária define o contrato como “ambicioso”. Inicialmente, estava previsto o mapeamento de 125 km de galerias, mas, como o ritmo está “rápido”, deve-se ultrapassar os 150 km até 2025. Até o momento, 51 km já foram percorridos por Pluvi.
“A tendência é que, terminado esse contrato, a gente parta para expansão para outras áreas da cidade”, considera Lobo.
MINIMIZAÇÃO DOS CUSTOS
O gerente de operação da empresa NorBrasil, Nilo Massone, aponta as vantagens do uso do robô. A principal delas é a precisão de localização de avarias. Assim, não é preciso quebrar todo o calçamento de uma rua e abrir grandes buracos para encontrar o motivo do problema de algum extravasamento.
“Quando você não tem uma tecnologia assim, só conhece os problemas quando chega na necessidade de correção. O robô ajuda a dar manutenção preventiva e minimizar o custo da operação da rede”, explica.
Segundo ele, embora o foco do robô seja a despoluição, as imagens e relatórios gerados por software permitem identificar problemas na tubulação, já que algumas delas chegam a ter cerca de 80 anos de uso.
“Lançamos tudo isso num mapa e, dentro dele, sabemos a posição da rede na rua e das avarias. Você acaba fazendo um trabalho de projeto de manutenção. Quando filma, o robô consegue detectar até o nível da água que passa pela tubulação, aí a gente sabe se ela está saturada, se precisa de duplicação”, exemplifica.
Técnico de inspeção avalia percurso do robô com ajuda de câmera superzoom
Foto: Nícolas Paulino
Depois do trabalho em campo, Pluvi precisa passar por manutenção, tendo as engrenagens abertas e limpas. Se chegar a cair dentro da água – naturalmente salgada por causa da maresia -, a limpeza tem de ser imediata. O sistema de software também é atualizado com frequência para implementar melhorias na execução.
AÇÕES COMPLEMENTARES
Segundo a secretária Luciana Lobo, a video inspeção de Pluvi está dentro do programa Fortaleza Cidade Sustentável (FCS), que visa a melhorar as redes naturais da Capital cearense, sendo “irmão” da ação Se Liga na Rede.
De forma complementar, 2,5 mil residências no Grande Pirambu, Cristo Redentor, Jacarecanga e adjacências devem ser ligadas à rede de esgoto, para evitar lançamentos irregulares nas galerias pluviais. Até o momento, quase 2 mil já foram contempladas.
“Cada um real gasto em saneamento economiza seis em saúde. Só esse número dá uma posição da transversalidade desses gastos. Além disso, temos a dignidade de a pessoa se sentir morando num local apto”, entende.
Além disso, segundo o técnico de obras Nilo Massone, o mapeamento da rede deve facilitar a manutenção preventiva e minimizar o custo de uma rede nova para várias frentes de serviços da Prefeitura.
Técnico de inspeção avalia percurso do robô com ajuda de câmera superzoom
Foto: Nícolas Paulino
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
O desafio do projeto em Fortaleza é justamente torná-lo uma política pública permanente, na visão de Nilo. “O ideal é que o sistema permaneça limpo, principalmente nos pontos críticos, porque a base não é mais no achismo, é na certeza das avarias”, sugere.
“Às vezes a rede é limpa, nova, tá perfeita, mas a população não ajuda. Vem a enchente e revela tudo”, complementa o técnico Samuel Alves. “Tem pontos que a gente limpa e permanecem conservados. Em outros, quando a gente volta, começou a juntar de novo”.
Dentro do FCS, a Seuma também desenvolve o Plano de Educação Ambiental e Sanitária (Peas), cujo propósito é educar a população da Bacia da Vertente Marítima e do entorno do Parque Rachel de Queiroz para diminuir a geração de lixo e melhorar o manejo e descarte adequado de resíduos nessas regiões.
“O avanço do saneamento e a correta gestão têm que estar associados ao uso da tecnologia. Quando bem realizado, esse tipo de mapeamento, de uma maneira técnica, competente e bem executada, evita problemas futuros e traz informações muito relevantes para a gestão”, reforça Luana Siewert, do Trata Brasil.
Luana Siewert Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil considera “eficiente” esse tipo de análise porque, na leitura dela, “hoje o saneamento básico precisa contar com a tecnologia para avançar, seja pela videofilmagem ou pela instalação de sensores de vazão ou de pressão nas redes de água e esgoto”.
Veja reportagem original: Diário do nordeste